quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NÃO MELHOROU NA CHINA A SEIS MESES DOS JOGOS

A situação dos direitos humanos não evoluiu na China com a organização dos Jogos Olímpicos, reafirmou nesta terça-feira a Anistia Internacional (AI) por ocasião da publicação de um livro intitulado "Direitos humanos na China, o outro lado da moeda".
"A idéia segundo a qual a liberdade e a democracia progrediram na China durante a organização das Olimpíadas é completamente falsa", denunciou o jornalista Pierre Haski, autor do prefácio do livro, durante um debate na sede da AI, em Paris.
Para Haski, o indiciamento do dissidente chinês Hu Jia por "incitação à subversão" constitui "um desafio ao mundo inteiro" lançado pelas autoridades de Pequim, a seis meses dos Jogos.
Nesta terça-feira, um "ciberdissidente", Lu Gengsong, foi condenado a quatro anos de prisão pelos mesmos motivos. Já o jornalista Ching Cheong, condenado a cinco anos de prisão por "espionagem", foi libertado.
Haski, ex-correspondente na China do jornal francês Libération, considerou que Pequim não cumpriu "as exigências mínimas, como a ratificação do Pacto dos direitos civis e políticos da ONU".
"Eu não acho que os Jogos vão mudar alguma coisa", declarou, por sua vez, o pesquisador e especialista da China Jean-Philippe Beja.
Em seu livro, AI denuncia um controle maior sobre a imprensa nacional antes das Olimpíadas, enquanto que a imprensa estrangeira tem mais liberdade para fazer suas reportagens. A organização de defesa dos direitos humanos também menciona o controle da internet, a pena de morte, as condições de vida dos trabalhadores imigrantes e a "desintoxicação obrigatória" dos viciados.
AI anunciou o lançamento de uma campanha "J-100", cem dias antes das Olimpíadas, para alertar as pessoas sobre a situação dos direitos humanos na China.
Nesta terça-feira, uma porta-voz do comitê chinês de organização dos Jogos informou que a China estava estudando um projeto de flexibilização do controle sobre a internet durante as competições para autorizar o acesso a sites proibidos, como o da BBC.
Os projetos para derrubar a "Grande muralha eletrônica" (Great Firewall) da China são debatidos atualmente e uma decisão será tomada em breve, disse Wang Hui, chefe de relações com a imprensa do comitê de organização.
"Estamos cogitando a possibilidade com base nas sugestões dos jornalistas e em um estudo das experiências em outros países, de forma que durante os Jogos Olímpicos poderia haver algumas mudanças", declarou . "É uma das formas de promover o progresso na China".
A China exerce um controle rígido na rede. Os internautas chineses têm acesso a uma versão 'light' da internet, com páginas censuradas, especialmente as de notícias, como a BBC, aquelas que pertencem a organizações de defesa dos Direitos Humanos e todas as consideradas subversivas pelo poder comunista.
Wang Hui declarou que as mudanças deveriam ser postas em marcha a tempo para os Jogos Olímpicos, quando 20.000 jornalistas estrangeiros estarão presentes para cobrir o evento.
A possibilidade de que os cidadãos chineses possam se beneficiar também desta medida é confusa, já que a extensão da liberdade de reportagem dos jornalistas estrangeiros realizada no ano passado não se estendeu aos repórteres locais.