terça-feira, 29 de janeiro de 2008

OMS: MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA DIMINUI NO MUNDO, MAS IMIGRAÇÃO LEVA PRÁTICA A EUROPA E ESTADOS UNIDOS

foto retirada de http://ocetico.wordpress.com/2007/08/09/nao-ha-justificativa/
A mutilação genital feminina está a diminuir no mundo, contudo a imigração transportou esta prática para a Europa e Estados Unidos, onde não existia, anunciou hoje a Organização Mundial de Saúde.
Este foi um dos temas abordados no Conselho Executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), reunido esta semana em Genebra, Suíça.
Também conhecida por circuncisão feminina ou excisão, esta prática envolve a remoção parcial ou total dos órgãos genitais femininos externos ou outras lesões dos órgãos genitais que provocam alterações anatómicas, tendo por base razões culturais ou fins não terapêuticos.
O organismo sanitário das Nações Unidas instou os países membros a apoiarem as acções para eliminar esta prática, estimando que entre cem e 140 milhões de mulheres em todo o mundo já tenham sido submetidas à mutilação genital, afirmou hoje Fadela Chaib, uma porta-voz daquela entidade.
A OMS - que afirma já ter documentado casos em 28 países africanos, asiáticos e no Médio Oriente - estima que anualmente «mais de três milhões de mulheres se encontrem em risco de serem circuncisadas em África».
A porta-voz da OMS sublinhou também existir «cada vez mais evidência» de que um crescente número de mulheres que vive fora dos seus países de origem, inclusivamente na Europa ocidental e na América do Norte, «foram ou podem tornar-se vítimas dessa prática nos respectivos países de acolhimento».
A OMS inclui Portugal na lista dos países de risco no que respeita à mutilação genital feminina, pela existência de imigrantes de vários países onde ela é praticada e que, muitas vezes, numa ânsia de impedirem a dissolução da identidade, mantêm as mesmas práticas ancestrais.
«Existem também em Portugal mulheres que sofreram mutilação nos seus países de origem e que necessitam de cuidados de saúde específicos, físicos e psicológicos», explicou hoje Yasmin Gonçalves, autora de um estudo sobre a prática da circuncisão feminina em Portugal.
A psicóloga e voluntária da Associação para o Planeamento da Família (APF) explicou que a investigação teve por base um questionário de opinião distribuído a profissionais de saúde da área da Grande Lisboa, zona do país onde existe uma maior concentração de imigrantes provenientes de países africanos.
«Foram feitos dois estudos, um na zona da Amadora e posteriormente outro no concelho de Loures» onde se procurou avaliar as opiniões dos profissionais de saúde, o seu conhecimento geral e específico sobre o tema, o número de situações observadas ou pedidos de realização das mesmas, entre outros.
O estudo realizado concluiu que grande parte dos inquiridos já ouvira falar sobre o tema (94 por cento), mas apenas 11 por cento é que tinha formação mais especializada nesta área.
«Não obtivemos dados de que a mutilação genital feminina seja praticada em Portugal», afirmou a responsável, sublinhando que é necessário «sensibilizar e informar mais os profissionais de saúde de diferentes áreas para este fenómeno».
De acordo com Yasmin Gonçalves, apenas isso permitirá «a aquisição de competências técnicas adequadas para os profissionais identificarem e lidarem com as possíveis vítimas com vista à obtenção destes casos».